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Entrevista com Maria Luísa Condeço
Raízes e Percurso
Quem foste em criança? Que memórias te moldaram?​
​Antes de tudo o resto, o colo da minha mãe e a presença muito criativa do meu irmão Sérgio. Depois as brincadeiras com o meu irmão João, o meu pai ainda como herói. O cheiro do sabugueiro a secar em lençóis brancos na rua. Vivi os meus primeiros 5 anos em Moçambique e não tenho memórias dessa parte da minha vida, no entanto sei que foi um luto tremendo ter chegado a Portugal, sem rumo, centro ou estrutura, virei bicho do mato como dizia a minha mãe. Recordo com facilidade os tempos vividos na Azinhaga do Ribatejo (éramos vizinhos da sogra do Saramago e recordo a sua chegada, com os seus óculos quadrados e pasta escura, interrompendo as brincadeiras de crianças - o seu ar assustava-me!). Recordo a alegria que sentia dentro de mim, uma alegria infinita, muitas vezes quebrada pela chegado do meu pai e do terror que isso me causava (nos causava). Recordo o cheiro a bolos que vinha da cozinha, da carne à jardineira ou da canja da minha mãe. Da esperança que eu tinha (e tenho) na humanidade, de dias melhores. Queria ser cientista, astronauta, bióloga marinha, viajar até à Patagónia, nadar com baleias, estudar as estrelas. E queria ter filhos e ser muito feliz. Sonhava com uma família, onde não houvesse medo, nem gritos, nem violência. Amava profundamente (e ainda amo) o meu irmão mais velho, o Sérgio. Que menino admirável, sensível e divertido ele era. Era a minha figura de referência, e creio que ainda o é em tantos aspetos.
​O mundo e o papel das mulheres nele começou a afetar os meus pensamentos pelos meus 10 anos de idade, e recordo com facilidade o tumulto que se gerava em mim na presença da violência exercida pelo meu pai contra a minha mãe e eu e o meu irmão mais velho. Aquilo não poderia estar certo, aquilo que ali acontecia perturbou-me sem sequer perceber como, durante muitos anos, até chegar á minha adolescência e perceber que o que acontecia em minha casa não acontecia na casa dos outros. Que a minha normalidade não era normal.. Isso foi a catapulta para o meu interesse no papel das mulheres no Mundo.
​
​2. Como começou o teu caminho como doula e terapeuta?
Creio que o meu caminho como doula começou nos meus primeiros anos de vida - com dor. 
Sei que a minha vontade de ajudar outras mulheres começou na violência a que assisti durante anos a fio do meu pai contra a minha mãe. Essa sensação de profundo terror por ela e por mim, esse vazio tenebroso e angustiante de não saber quando se iria repetir, essa urgência de a acarinhar e proteger (papeis nada adequados a uma criança, bem sei) creio que foi o que me conduziu toda a vida para a defesa dos direitos e segurança das mulheres. Mais tarde e com 28 anos o que finalmente despoletou esta descoberta do que é ser doula foi a chegada do meu primeiro filho José. Um parto induzido às 39 semanas, por conveniência médica apenas e que resultou numa cesariana com anestesia geral, da qual acordei cedo de mais e pensei morrer sem nunca poder ver ou segurar o meu querido filho.
​Seis meses mais tarde, obesa e deprimida descobri que haviam mulheres que cuidavam e informavam as outras mulheres e suas famílias sobre todos os aspetos da maternidade e parentalidade, incluindo os riscos de uma indução sem razões médicas. O meu sonho primordial de cuidar da minha mãe estava ali, ainda sem qualquer noção de onde vinha (era comum eu dizer que queria ser doula para evitar que outras mulheres passassem pelo mesmo que eu, imagina a inocência!). Hoje estou profundamente grata pela experiência pois sei que foi o catalizador para quem sou e o que faço.

Com o tempo, percebi que também eu precisava de cuidado.
Experimentei muitas terapias. Algumas más (como um psicólogo que me disse que as relações incestuosas eram culpa das filhas… esse já morreu).
Outras foram faróis. Há 18 anos, encontrei a Xuxuta (Noordev Kaur). Ela tem sido uma luz na minha vida. Uma referência viva de presença e respeito.
E há cerca de 5 anos, todas as células do meu corpo disseram: “É este o teu caminho.”
Comecei a formação como terapeuta.
Hoje, estou no meu quarto curso — com o Gabor Maté.
E tem sido um mergulho profundo nas minhas raízes.
3. Que aprendizagens mais te marcaram?
As primeiras que me surgem são dolorosas na verdade.
​Refere mestres, livros, pessoas, quedas. O que te ensinou mais — a formação ou a vida? Que feridas se tornaram mestras?


Valores e Visão
​
4. Que valores te guiam?
Autenticidade e Presença
São os dois pilares que sustentam tudo o que sou e faço. Acredito que o mundo que vemos lá fora é espelho do nosso mundo interior.
Por isso, a minha busca constante — em cada gesto, palavra ou escolha — é estar presente e ser autêntica.Pergunto-me várias vezes ao dia:
O que estou a sentir é verdadeiro ou é uma construção?
É emoção ou é perceção?
O que é que eu quero, realmente?
De onde vem o meu desejo?
Estou a agir a partir do coração ou a tentar agradar?

Aprendi a reconhecer a voz da minha persona — a que foi sendo moldada para colmatar os vazios da menina cheia de alegria e esperança.
E aprendi também a escutá-la sem deixar que comande.

Autenticidade e presença exigem respeito. Primeiro por mim. Depois pelos outros.
E é nesse respeito profundo que nasce, enfim, a minha liberdade.
Não a liberdade que me foi vendida como ideal — mas uma outra, mais crua, mais íntima: a liberdade de não precisar de desempenhar para ter lugar no mundo.

Já não quero nada disso.
Autenticidade não é um dom. É uma prática diária de escuta e desapego. Ser livre é parar de querer encaixar onde nunca fui feita para caber.
E isto não é só sobre mim, é sobre todas nós que estamos em processo de despir máscaras, reconstruir fronteiras internas e escutar o que é verdadeiro.


5. O que significa para ti “cura”?
→ Usa metáforas. A cura é regressar a casa? É estar inteira mesmo com cicatrizes? Podes partilhar um momento onde te sentiste em cura.


6. Qual a tua esperança para o futuro?
→ Fala como se estivesses a escrever uma carta ao mundo. Que mundo gostarias de deixar aos filhos dos teus filhos?

Presença e Propósito
7. O que é estar presente?
→ Descreve um momento em que estavas realmente lá. Que sinais no corpo, no coração, te mostraram isso?

8. Como cultivas o teu centro?
→ Podes falar das tuas práticas (respiração, escrita, ervas, silêncio), mas também dos teus desafios. O que te tira do centro e como voltas?

9. Tens uma missão? Como a descreverias hoje?
Sim, tenho.
A minha missão mais profunda é saber quem sou.
Saber o que recebi, o que me foi dado.
O que construí à volta da dor. O que são muralhas. O que são dons. O que são máscaras.
Às vezes parece pouco. Mas sinto que é tudo.
Se eu não souber quem sou — como posso saber o meu propósito? Como posso estar verdadeiramente ao serviço?
A vida tem-me oferecido pistas, espelhos, encontros.
Tudo se tem alinhado (e isto quer dizer confusão, sentir-me perdida) de formas misteriosas e belas, para que eu tenha a oportunidade maravilhosa de me conhecer.
O resto são detalhes. Belos, importantes, necessários — mas detalhes.


Desafios e Transformações
10. Qual foi uma dor marcante?
→ Escolhe uma. E descreve como te moldou. O que aprendeste sobre ti que antes não sabias?


11. O que fazes quando perdes a fé?
→ Sê honesta. Mostra o lado humano. Tens rituais de resgate? Há pessoas que te ajudam a relembrar quem és?


12. Já pensaste em desistir?

Antigamente, tinha muito medo de desistir. Achava que desistir era fracassar. Sentia que, se parasse, se abrisse espaço, se abrandasse… então não era suficiente. Vivia num modo de esforço e sacrifício constantes. Como tantas de nós.
Hoje? Desisto todos os dias.
Desisto de me esforçar quando sinto que não vale a pena.
Desisto de estar acordada e vou dormir.
Desisto de responder a mensagens e guardo-as para quando tiver mais vontade ou mais espaço.
Talvez me digam que isto não são desistências — que são pausas. Talvez. Mas para mim, desistir e fazer pausa são irmãs muito próximas.
E muitas vezes, é justamente a pausa que me impede de desistir para sempre. Já me senti tantas vezes perdida e confusa.
Ainda acontece.
Mas hoje aprendi que esses momentos não são falhas — são convites à transformação. Quando uma parte minha está a ceder lugar a outra, ainda invisível, eu escuto. E não sabendo o que fazer, não faço nada. Fico em silêncio. às vezes choro que é uma ótima forma de limpar o fígado (risos).
Desisto de insistir que “deveria saber”, que “deveria ser”, que “deveria fazer”.
Deveria é poesia. E eu, às vezes, só quero respirar.


Ritmos e Cuidados
13. Que práticas pessoais te sustentam?
Tenho pequenos rituais que ninguém vê. Ou alguns podem reparar se estiverem mais atentos. O café pela manhã é um pequeno ritual que me acorda de forma suave e é o meu momento de calma, só comigo mesma antes dos rapazes acordarem, antes de pegar no telemóvel ou abrir o computador. Chá a meio da manhã ou da tarde, sempre de ervas secas que apanho ou compro algures. Uso muito Bela Luísa, flor de laranjeira ou hortelã. Um momento de reflexão, pausa.
Caminhar descalça, escrever à noite. Detalhes simples com alma e presença, nada de muito elaborado.


14. Como vives a tua ciclicidade e transições?
→ Podes falar da tua menstruação, menopausa, mudanças de vida. Como escutas os teus ritmos internos?

15. O que é autocuidado verdadeiro?
→ Vai além da estética. Que formas de amor-próprio cultivaste com o tempo? Que gestos são medicina para ti?

Espiritualidade com os pés na Terra
16. Como defines a tua espiritualidade?
→ Não precisa ser uma crença. Pode ser uma forma de escuta, de presença, de comunhão com a vida.

17. Que papel tem o sagrado no teu trabalho?
→ Usa um exemplo. Um ritual que guiaste. Uma intuição que te guiou. Um momento em que sentiste o Divino.


18. Que imagem representaria quem és hoje?
Essa pergunta pode ser mesmo gigante — porque me pede para me ver inteira numa única imagem, e isso às vezes parece impossível, ou até injusto. Porque sou tantas camadas, tantos ciclos, tantas expressões de mim mesma. Mas olha… talvez não seja sobre encontrar a  imagem definitiva. Talvez seja só sobre escolher uma porta simbólica para hoje. Um reflexo de como me sinto neste momento do meu caminho.
E amanhã pode ser outra.
Assim escolhendo uma imagem, escolheria uma flor de lótus a abrir-se na lama.
Este símbolo é, para mim, mais do que uma imagem — é o meu nome espiritual na tradição Kundalini: Harkamal Kaur, aquela que vem da lama e sobe até à luz, intocada pela lama. Tal como o lótus, cresci em águas turvas. Houve dor. Houve sombra. Mas mesmo aí, havia já a semente de algo mais. Hoje reconheço que cada experiência escura foi húmus para o meu florescimento.
E ainda que traga comigo a memória da lama, escolho abrir-me à luz.
Com raízes fundas na Terra e o coração voltado para o céu.


Partilhar com o Mundo
19. Que impacto queres deixar?
→ Fala com o coração de quem sabe que o seu trabalho é semente. Que queres que fique mesmo depois de ti?

20. O que desejas que as pessoas sintam ao teu lado?
→ Podes responder como se fosses uma cliente tua a sair de uma sessão contigo.

21. Que ensinamento gostarias de deixar?
→ Pode ser uma frase, uma história, uma visão. O teu legado em poucas palavras.




Perguntas relâmpago:

Um livro que mudou a tua vida?
Tantos! Mas tantos ao longo da minha vida que escolher um seria impossível.


Uma música que te emociona sempre?
Tantas! Tantas ao longo dos anos que escolher só uma seria impossível! (risos)
Músicas clássicas como a Pompa e Circunstância de Edward Elgar dá-me sempre energia, a Madame Butterfly de Puccini leva-me às lágrimas... Bem como o Nessum Dorma do Puccini cantado pelo Pavarotti. Gosto muito de músicas dos anos 50 como Thats Amore do Dean Martin, e depois salto uns anos e chego aos 80, e oiço o que toda a gente ouve,  Sting da minha infância, Prince e The Cure que dançava na discoteca com 20 anos ou algo mais recente como 
Lhasa de Sela, 

Um cheiro que te leva para casa?
Essa é fácil, o cheiro do sabugueiro. Leva-me diretamente para os fins de tarde quando vinha da escola na Azinhaga do Ribatejo e as mulheres colocavam o sabugueiro a secar em grandes lençóis à porta de casa, à sombra. Quando o sol virava na rua, elas mudavam os lençóis para o outro lado da rua. Era adocicado, suave, perfumado. Ainda hoje faço isso, de recolher sabugueiro, colocar a secar e guardar em frascos para o inverno, é excelente para infeções respiratórias. E leva-me para casa, onde aquela menina sonhava livremente, ainda sem grandes medos conscientes.

Um ritual teu, sagrado e simples?
Parar tudo, sentar-me e respirar. Se precisar de mais apoio, acendo uma vela, coloco uma flor do campo na minha frente, ou faço essa pausa em frente ao altar dos meus ancestrais. Mas de forma simples, isso apenas. Parar tudo e respirar. Estar comigo mesma. Sentir a minha dor, a minha angústia, a minha força, a minha solidão e o meu medo. O meu amor dentro de mim.

O que te dá genuíno prazer?
Tanta coisa! Dormir no colchão fofo do meu companheiro e na sua presença, claro. 
Cuidar do jardim, especialmente na casa dele na Holanda, está tudo sempre muito húmido, a  terra muito solta e fofa, os canteiros ficam belos, enquadrados pelas pedras do jardim, é absolutamente satisfatório.
Ler um livro novo, cheirá-lo antes mesmo de o começar a ler. Tirar notas no próprio livro a lápis e lê-las anos mais tarde (era sacrilégio para mim fazer tamanho escândalo há uns anos atrás).
Conduzir devagar e conduzir depressa. Conduzir depois de um dia a dar curso, deixando tudo para trás. Ser conduzida pelo meu companheiro pela Europa fora, as nossas viagens até Berlim, pela Escócia fora, pensar e organizar a nossa próxima viagem.
Dava-me profundo prazer ver os meus filhos a dormir quando eram bebés pequenos. Dar de mamar. Coisas que parecem ter sido noutras vidas.
Não fazer nada também me dá imenso prazer.
Comer e cozinhar com amigos.
Dormitar no sofá depois do almoço num dia de calor extremo no Alentejo.
Levantar cedo, quando os rapazes ainda dormem e beber o meu café no jardim, só eu e os gatos.
Sentar-me a conversar com uma amiga sem tempo nem agenda.
Sentir que a cliente saiu da sessão fortalecida (sim, sei que me dá prazer porque a terapeuta em mim deseja que a cliente saia fortalecida, mas na verdade tem que haver uma aceitação pelo que é e não aquilo que se quer).
Ouvir os meus filhos em conversa com os seus amigos, discutindo ideias cheias de esperança e respeito pelos demais.
Chega? (risos)



Uma mulher que te inspira?
Tantas! Mas tantas ao longo da vida que escolher uma seria impossível! (risos). A primeira de todas, a minha mãe querida. 

Algo que faças e que a maior parte das pessoas não sabe que fazes?
Humm, gosto de escrever Haikus. Confesso que tenho dificuldade ainda com a métrica e que não os faço todos os dias, apenas quando nascem em mim, o que pode acontecer uma vez por mês, por exemplo. Mas quando um se dá a conhecer dentro de mim, ele nasce e eu acolho-o. Dá-me um prazer profundo. Deixo aqui o meu último: 
  • Corre, meu amor,
    para os braços que te esperam,
    alegria nossa.
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